Tempo de nascer 

Tenho me perguntado se você não tivesse seu tempo para nascer se eu escolheria  “deixar” você nascer agora.Ou se ia querer esperar pra me sentir mais segura, mais preparada, se não ia querer terminar de ler o livro da “Encantadora de bebês” antes de você chegar, se ia querer esperar o mundo sair desse caos, se ia deixar (mesmo sem querer) meus medos tomarem conta de mim.

Tenho me perguntado também quantas coisas não deixei nascer por acreditar que ainda não era tempo, que não ia dar conta, que faltava aprimorar ou que era melhor esperar.

Quantas coisas precisamos permitir nascer e não permitimos? Quantas vezes precisamos nos permitir (re)nascer e não permitimos? 

Na espera dos nascimentos que estão por vir – de um filho, de uma mãe, de um pai e de uma família – nasce um livro. Um livro que é um relato de primeira gestação, um livro que é um diário de uma gestação num momento de pandemia, um livro do que vivi e senti nestes últimos meses. 

Este é um livro recém-nascido de alguém que está recém-nascendo.

Sobre ser gestante durante a pandemia

Revendo as fotos da galeria do meu celular, me deparei com uma que fiz no dia 24 de fevereiro. Enquanto posava pra foto escolhendo o melhor ângulo para aparecer minha barriga de 22 semanas de gestação (5 meses), ao fundo, na televisão, aparecia a situação do coronavírus com seus números de casos e mortos no Irã, Coreia do Sul e China. Tudo parecia tão distante, que nem remotamente me passou a ideia que em menos de 1 mês, estaria vivendo isso aqui e, que em plena gestação, estaria iniciando um isolamento social.

E foi assim, em meio a informações controversas, cheia de dúvidas sobre o que era segurança e o que era exagero, que no dia 17 março escolhi começar o isolamento. Tomei a decisão dentro do que me fazia me sentir mais segura.

Neste período muitas mudanças aconteceram, muitas coisas precisei lidar, e não eram aquelas que eu estava me preparando para passar: alterações físicas, emocionais, consultas médicas, compras de enxoval, preparação da casa, organização da licença-maternidade… As mudanças eram outras, a primeira delas é que minha vida passou “acontecer” em casa.

O trabalho que ficou em home office (on-line) resultou numa redução de jornada. Esta redução de jornada levou a uma redução salarial, que pediu uma reorganização financeira “pré” licença-maternidade. É quase impossível não pensar no dinheiro quando se está vivendo um período de altos gastos como é a gestação e a chegada de um filho.

Outras coisas também mudaram, os privilégios que tinha precisei abrir mão. Não fui mais às aulas de hidroginástica, nem ao pilates, parei com as drenagens e caminhadas. Mas descobri que era possível fazer as caminhadas em casa, comecei a fazer 3a 5 km na garagem e até dentro de casa.   Vale lembrar que minhas escolhas têm a ver com meu jeito de funcionar na vida, afinal sou daquelas que leva muito a sério o “prevenir para não remediar”.

Estas mudanças até me fizeram pensar que a vida correria mais leve e devagar estando em casa, mas não, os dias pareciam voar, quase não conseguia fazer o mínimo que me programava. Logo identifiquei que em casa estava vivendo uma sobrecarga. Tarefas domésticas, compras, gestação, informações, alterações na rotina, atendimentos on-line, cozinhar, vida de casal, estava tudo acontecendo num mesmo espaço, sem fronteiras, sem manual de instrução. Não era sobre procrastinar e falta de rotina era sobre uma nova forma de viver.

No momento de maior mudança da minha vida, gestar e esperar um filho, tive que lidar com diversas alterações trazidas pelo coronavírus. Enquanto no quesito gestação eu já tinha ouvido muitos relatos e conselhos de quem passou por isso, aqui, nesse contexto pandemia, tudo é muito novo, sem exemplos, tudo é uma descoberta diária do que e como fazer.

Desde então, agora, finalizando o último trimestre de gestação, ainda estou em distanciamento social, saindo de casa o mínimo possível.

Estar em casa trouxe desafios, mas a segurança e o privilégio de poder tocar minha vida daqui me ajudaram a buscar alternativas e conciliar as coisas nesse novo contexto.

Uma gravidez na pandemia

Já li sobre puerpério, parto ativo, cesárea e amamentação. Já procurei no google como trocar a fralda, fazer arrotar e colocar pra dormir. Só não achei nenhum manual de como gestar e “passar” por uma pandemia. Não tem! 

Estou diariamente descobrindo, me des-cobrindo, me redescobrindo e, por vezes, me encobrindo. 

Resolvi encarar este processo (nem todo dia fácil) como um treino para as descobertas futuras da construção da maternidade. 

Afinal, como diz Guimarães Rosa, “a vida é assim: um esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta”.

A espera na pandemia

  • Em casa, nas primeiras semanas, deixei as coisas acontecerem, livres e soltas, sem rotina, “apenas” sentindo e tomando consciência do que estava sendo este momento pra mim.
  • Aos poucos, estabeleci alguns horários para trabalho e tarefas domésticas.
  • Troquei tarefas presenciais por on-line. As compras de mercado, farmácia também priorizei pela internet ou whats, como não fazia muito isso, algumas me geraram bastante trabalho, mas agora estou até gostando de fazer mercado assim.
  • No casal, precisamos definir espaço de trabalho e de privacidade, passamos a uma convivência de 24 horas por dia.
  • Nunca usei tanto o serviço de delivery.
  • Descobri que meu marido é um excelente cozinheiro.
  • Descobri neste ínterim que dá pra fazer caminhadas de 3 a 5 km na garagem e até dentro de casa.
  • Comprar as coisas para o enxoval e alguns itens para a maternidade foram os mais difíceis. Priorizei compras no comércio local, mas como aqui (Campo Largo) quase ninguém faz atendimento on-line escolher pelo whats foi bem trabalhoso. Sem contar que pela pandemia muitas lojas ficaram com baixo estoque de produtos, consequentemente a oferta de mercadorias diminuiu. Como eu já tinha comprado a maior parte das coisas antes de acontecer o isolamento, precisei me adaptar com poucas coisas.
  • As consultas médicas não puderam mais acontecer com acompanhante.
  • Na rede social descobri amigas que também estavam gestantes, pelo whats compartilhamos experiências, falamos da vida, de covid e de gestação.
  • Os exames de rotina foram desmarcados, foram mantidos só os essenciais. Da obstétrica de 21 semanas só fui ver o meu filho com 31 e sem o marido poder acompanhar. Tudo para priorizar a segurança das gestantes, que em algum momento disso tudo passou a fazer parte do grupo de risco.
  • No início do terceiro trimestre troquei de médica (obstetra) e precisei de autorização para que meu marido pudesse estar nesta consulta. Esta foi minha primeira saída de casa após entrar em isolamento social, neste momento ainda não era necessário o uso de máscara.
  • Os encontros familiares e com amigos também não aconteceram mais presencialmente.
  • A visita aos pais foram super reduzidas no presencial, contatos se tornaram frequentes pelo whats e vídeo chamada.
  • Cortar cabelo, fazer as unhas, depilação, nada disso está sendo aconselhado. Eu já me senti vitoriosa em ainda conseguir cortar as unhas do pé e cortar o cabelo do marido sem tutorial do youtube.
  • Não fiz fotos profissionais, mas me diverti muito quando, eu e meu marido nos propusemos a fazer nosso próprio book sozinhos em casa, buscamos algumas referências na internet e mãos na massa.

Stand-by: reorganizando a vida em casa

Até quando?

Não sei! Estou no modo de espera.

Precisar repensar os planos não é uma tarefa muito fácil, mas precisar repensar aquelas coisas mais simples que você fazia no automático, por estar vivendo em meio a uma possibilidade de contaminação, estando à espera de um bebê, pode ser mais difícil ainda.

Eu estava num período da gestação que já não queria mais pensar em nada novo, já tinham novidades demais acontecendo na vida: escolhas e decisões que só cabiam a mim, exames que só eu poderia fazer, alterações físicas e emocionais que só eu poderia sentir. E pahh! Tudo precisa tomar novos rumos.

A vida já não está como antes, isto é fato. E até que se tenha soluções (vacina, por exemplo, para o Covid-19), muita coisa precisará ser repensada: relações, compras, trabalho, cuidado pessoal, visitas, saída de casa.

De início, minha primeira reorganização foi para #ficaremcasa, talvez a próxima, será para como “sair de casa”.

Decidi que o meu foco não seria a produtividade, mas em como passar “melhor” por este momento que me pede uma nova forma de viver. Adotei formas mais práticas para o dia a dia, repensei o orçamento, o trabalho, o entretenimento, o autocuidado e os relacionamentos. Repensei inclusive minha forma de viver. As primeiras mudanças foram nas coisas do dia a dia, as saídas de casa, por exemplo, foram reduzidas ao máximo. As consultas e exames também mudaram, o acompanhamento nutricional ficou on-line, minhas sessões de terapia também.

Nem sempre, nem pra todo mundo, nem todo dia é fácil recalcular a rota, principalmente, nesta situação, em que nem o GPS pode te ajudar. Não há orientações, ninguém sabe ao certo o que fazer, ninguém sabe ao certo pra onde ir e o que pode acontecer. Não há respostas, mas há muitas dúvidas.

Dias difíceis. Dias que o medo do parto deu espaço para o medo do vírus. Que a ansiedade sobre os resultados dos exames de obstétrica, sangue e tudo mais, deram espaço para a preocupação de como estar segura e não se colocar em risco.

A vida pediu reorganização e pra isso tive que aceitar os meus medos e o fato de que é necessário tempo, paciência e disposição para lidar com a complexidade de cada momento. Precisei aceitar um modelo diferente do planejado, realinhar as expectativas com a nova realidade e criar espaço para as novas aprendizagens acontecerem.

Quarentena #dia10

E eu que pensei que daqui pra frente só contaria os dias pro seu nascimento.
E eu que pensei que quarentena só seria depois do parto.
E eu que pensei e imaginei tantas coisas pra esse último período de gestação que estão sendo e acontecendo de um jeito que eu nunca pensei. 
Por ora, sua mãe lida com os medos, com a ansiedade, com as dúvidas, com a fragilidade (que sempre existiu) de nossas vidas. 
Por ora, sua mãe se esforça para viver um dia de cada vez. 
Por ora, sua mãe chora, ri, se distrai, se revolta, lê e tira fotos. 
Por ora, sua mãe se assusta e elabora em diálogos internos e externos como tem sido isso pra ela. 
Por ora, sua mãe mantém a esperança de dias melhores, se conforta em ver como tem pessoas do bem, e faz sua parte pra contribuir de algum jeito com tudo que estamos vivendo. 


Sua mãe,

Saudades do que não vivi – gestação durante a pandemia 

Que saudade

Saudade do que poderia ter sido e não foi!

Dos passeios que não fizemos

Dos encontros que não tivemos

Dos abraços que não ganhamos

Dos mimos que não pudemos receber

Do chá de bebê que nem iríamos fazer

Das fotos que não tiramos para o book

Que saudade

De desfilar com o barrigão por aí

De passear nas lojas

De fazer todas as f-utilidades que se tem vontade de fazer quando se espera um bebê

Que saudades…

Ps.: ainda que tenhamos aprendido a ser gratos pelo privilégio, por exemplo, de poder ficar em casa, só pelo fato de termos uma casa. Também precisamos aprender acolher nossas emoções sem julgamento, isso significa, inclusive, se permitir sentir saudade mesmo sabendo que muita gente não tem acesso ao mínimo neste contexto que estamos vivendo. Portanto, acolha-se!

“E se!” – Ansiedade elevada ao nível máster 

Se não bastasse todas as mudanças, incertezas e medos que a espera de um filho traz somou-se a isso o contexto de pandemia. Um contexto de medo generalizado ou quase. Um contexto que nos coloca a par de nossas vulnerabilidades, que exige quase que diariamente uma forma de estar em segurança.

Não é só abrir mão do que não pôde fazer na gestação, é viver os lutos simbólicos daquilo que se sonhava quando se espera um filho, é viver os lutos coletivos na espera da “cura” da sociedade acometida por um vírus chamado Covid-19 e muitos outros que deram as caras com nomes mais conhecidos nesse momento que já é tão cruel.    

Saúde X economia, contaminação, mortes, risco de perder quem se ama, isolamento, desemprego. E pra gestante pode ter ainda pensamentos: “e se usar um hospital e me contaminar”,  “e se eu ficar sem consultas e colocar em risco o bebê”, “e se não fizer os exames de rotina e não saber se está tudo desenvolvendo bem”, “e se não conseguir me manter ativa em casa”, “e se eu não puder ter acompanhante no parto”, “e se não puder ter doula”, “e se meu filho se contaminar no hospital”, “e se eu fizer um parto domiciliar”, “e se eu pegar corona vírus”, “e se tiver que fazer tudo sozinha, sem rede de apoio no puerpério”, são tantos “e se”. São muitas perguntas sem respostas.   Nossa ansiedade é “promovida”, facilmente, ao nível máster, acompanhada pelo desespero.

É muito fácil entrar num jogo do sem fim, a lista de questionamento é interminável, e para quem gosta de estar no controle, viver um momento em que o futuro está muito mais incerto do que sempre foi, pode ser bem difícil de lidar. Além disso, não podemos esquecer que nossa mente tem a facilidade de nos levar do céu ao inferno em questão de segundos.

Por isso, é importante ater -se ao que é possível ter controle e não sobre o que não é. Não tenho (nunca terei) controle de como será, estará ou o que ocorrerá daqui pra frente, mas está sob meu controle me cuidar, tomar medidas que ajudem a me sentir mais segura, seja fazendo isolamento (se possível) ou cumprindo as medidas de higienização e cuidados. Não há garantias sobre um trabalho de parto e nascimento, nunca houve, o risco de uma contaminação sempre existiu, se não por Covid-19, por outros fatores, mas o que está ao meu alcance nesta situação? Posso tirar minhas dúvidas com meu obstetra, posso me informar sobre as medidas de segurança desse local, se for o caso tenho a possibilidade de escolher outro lugar? E se eu não puder ter doula, o que está no meu controle sobre isso, que apoio posso ter antes do parto, o que posso aprender que me ajudará e me deixará mais em paz.

Dúvidas em tempos de pandemia

Sabia que era importante cuidar para não me encher de informação e conseguir ir mais devagar. Mas aqui fui engolida. Quanto mais eu lia, mais exausta me sentia, mais dúvidas apareciam, mais ansiosa ficava e menos a situação se resolvia.  Nesta altura do campeonato eu já estava toda embolada com a gestação, o coronavírus e outros fatos emergentes a partir disso.

Para me organizar precisei retomar alguns pontos:

  • Não era coerente tomar decisões movida pelo medo, precisava antes escutar aquilo que estava acontecendo comigo.
  • Na busca de um caminho, me perdi na tentativa de encontrar a escolha certa. Uma armadilha, já que escolher é uma opção real e perfeição só existe no imaginário. Para sair dessa cama de gato abri mão da segurança em acreditar que existe um certo e um errado e comecei a ampliar meu olhar sobre toda esta situação.

O cenário de pandemia me fez repensar em várias coisas, uma delas o local de nascimento do meu filho. Sem muita informação, sem saber os riscos, o que significava ao certo estar grávida e o Brasil poder estar vivendo um pico no sistema de saúde, coloquei várias possibilidades em xeque.

O que seria mais “seguro” ou menos “arriscado”, hospital ou maternidade? Dúvidas e mais dúvidas, as opiniões eram diferentes entre os especialistas. A decisão, que inicialmente, já tinha tomado sobre ter o bebê no hospital foi repensada. Mudei e escolhi uma maternidade.

Se o que estava certo precisou ser repensado, o que eu estava repensando ficou ainda mais difícil de decidir.

No final do 5o mês de gestação comecei a me informar sobre parto, conversei com amigas, vi sobre parto humanizado, li sobre cesárea. E a decisão, que inicialmente, já tinha tomado que era fazer cesárea (independente dos rumos da gestação) também mudou. Agora eu queria deixar as coisas acontecerem, queria fazer um parto normal se tudo se encaminhasse pra isso, queria um nascimento humanizado pro meu filho. E a decisão, que inicialmente, já tinha sido tomada sobre a obstetra que me acompanharia, também mudou. E no início do terceiro trimestre de gestação, suas semanas após ter iniciado isolamento, comecei com outra obstetra.

O que estas dúvidas têm a ver com a pandemia? Eu escolhi mudar de hospital por me sentir mais segura sendo atendida numa maternidade. Mas não escolhi repensar  a via de parto nem mudar de médica por causa da pandemia, mas o fato de estar passando pela pandemia quase me fez desistir em fazer estas mudanças.

Vida profissional, pandemia e gestação

Numa consulta vascular, no início da gestação, o médico me perguntou: até quando você pretende trabalhar? Enquanto terminava de me ajeitar, pensei na pergunta e mentalmente me respondi “eu tinha que ter pensado nisso?”, “não trabalho até ele nascer?”. Pra ele só soltei uma risada e disse: “ainda não sei!”.

Lembrei desta pergunta várias vezes enquanto reorganizava minha vida profissional para iniciar o isolamento social.

Quando soube da gravidez quis reduzir minhas horas de trabalho, quis abrir espaço para viver outras coisas nesse período, mas quis, principalmente, desacelerar.

Foi na (e pela) gestação que me descobri fazendo coisas que foram muito prazerosas, não teria ido para uma aula de hidroginástica se não fosse por estar grávida, não teria priorizado um horário diário pra me exercitar se não fosse por estar gerando uma vida, por querer oferecer a melhor casinha pro meu filho.

Esse relato não é pra fazer você ficar se questionando do que deveria estar fazendo ou tirando da sua vida. Já são tantas responsabilidades atribuídas a nós neste momento, que não precisamos de uma comparação para nos deixar com mais pesos para carregar. Este relato é só pra dizer que me descobri em várias coisas nesse período, que isso foi prazeroso pra mim porque fez sentido, não porque era obrigação, porque me trouxe aprendizagem, porque me conectou com coisas boas, porque me possibilitou priorizar o que há tempos não priorizava. Foi bom pra mim, porque fiz aquilo que escutei meu corpo pedir. Não fiz para cumprir regras.

A gestação está sendo um espaço de descobertas, descobertas biológicas, de coisas que nem sabia que meu corpo era capaz, descobertas desse funcionamento, desse ciclo, descobertas sobre mim, sobre sentimentos que aparecem e forças que surgem e medos que brotam e esperança que nasce.

Eu não sei como estaria nas 36 semanas se não tivesse me recolhido em home office há quase 3 meses. Hoje, sigo trabalhando, ainda sem saber exatamente até quando, mas respeitando meus limites e priorizando aquilo que tem me dado prazer – e trabalhar também é isso pra mim.

Que azar o meu!

Em isolamento social, enquanto caminhava na garagem de casa, me deparei com esse pensamento: que azar o meu! Uma pandemia bem quando estou gestante!

Sim, a realidade é frustradora, a realidade nos traz limites, nos esfrega na cara que não existe perfeição. E quando nos deparamos com ela, nem sempre somos hábeis em tolerá-la. Afinal, é fácil construirmos castelos imaginários, difícil é vê-los não saírem como esperávamos.

Com o passar dos dias descobri que nem tudo era um pessimismo terminal. Não significa que é bom passar por uma pandemia, nem de longe. Mas eu vivi o privilégio, dentro desse contexto, de poder ficar em casa, trabalhar em casa e me organizar de um jeito que minha vida pudesse seguir mesmo nesta situação.

E o olhar mudou para “que sorte a minha”!

Que sorte poder estar em casa, sorte poder ter mais tempo, poder ir mais devagar, não precisar cumprir tantas obrigações, ter condições de fazer home office, de ter o marido em quarentena, de ter rede de apoio mesmo que a distância, de ter acesso a internet, de conseguir cuidar do meu horário e poder respeitar aqueles dias em que o pensamento “que azar o meu” volta a bater.

São tantos lutos vividos na pandemia, que ao final a gente nem sabe se ganhou ou se perdeu. Eu perdi ou ganhei tempo? Eu perdi ou ganhei com o isolamento? Eu perdi ou ganhei intimidade? Eu perdi ou ganhei proximidade?

Ilustração de Débora Bacchi

Postado por Vilma

set 15, 2020 , ,

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