2020: Um surto coletivo pandemia

Por: Jéssica Cristina Momenti Fuman

Quando 2020 começou eu estava cheia de planos, pois este seria o meu ano. 

Sim, eu esperava por grandes acontecimentos, um recomeço, queria desprender-me de todas as coisas negativas e pesadas que houveram em 2019. Portanto, faltando cinco minutos para meia noite, lá estava eu apossada por uma energia de renovação nunca sentida antes, repleta de certezas de que tudo seria diferente.

Não podemos dizer que meus sentimentos estavam errados, afinal, 2020 já começou com notícias de uma possível terceira guerra mundial, na qual o Brasil se livrou por causa dos nossos memes no Twitter. Ok, janeiro foi bem animado!

Fevereiro, alegria… muita festa, todo dia… Carnaval todo mundo pulando, dançando, sem se preocupar com nada, já que o Corona estava só na China e os brasileiros que vieram de lá não estavam infectados e cumpriam o isolamento social a eles imposto com tranquilidade, porque deveríamos nos preocupar com algo que não fosse comemorar? 

Contudo, mal acabou o carnaval e veio a primeira notícia: possível caso de coronavírus no Brasil, e em questão de semanas começou o caos, presidente dizendo que o vírus não passava de uma gripezinha, governadores tomando a frente e ditando as medidas necessárias para tentar frear a pandemia dentro do país. 

São Paulo declara o Lockdown, minhas aulas do último ano universitário são suspensas, minha viagem para ONU cancelada, aulas online, entrega do TCC, finalização da pasta de estágio ou tentativa de…, brigas com a coordenação do curso para não voltar as aulas, prorrogação dos prazos de entrega, e então a rotina se reajusta.

Novos hábitos foram adquiridos do dia para a noite, ontem era 18 de abril, início da minha quarentena, hoje é 30 de outubro e eu ainda estou de quarentena, definitivamente essa deve ter sido a mais longa da história da humanidade. 

Quase um ano que estamos vivendo trancados dentro de casa, tem dias que eu acordo achando que estamos tendo um surto coletivo, afinal, enquanto estou trancada em casa, alguns estão nas ruas, nos bares, academias e etc. Mais de 157 mil mortes e as pessoas ainda assim parecem não se importar.

É como diz a música Zombie “mas, você vê, não sou eu/ não é a minha família”, entretanto foi na minha família sim, perdi um tio-avô que não pude velar, não pude me despedir, minha vó (irmã dele) não consegue aceitar, para ela, o tumulo está vazio, mesmo tendo visto o caixão ser enterrado a sete palmos do chão. 

Os otimistas previam que nessa altura do ano, nós já teríamos recuperado nossa vida de volta e saído desse limbo em que nos encontramos, pois o ano passou sem que eu o vivesse, mas será que eu realmente não vivi? Tudo bem que meus planos ficaram suspensos, que os dias passaram sem eu perceber e que estamos com um pé no natal e nada aconteceu, mas será que esse ano foi realmente perdido?

Os pessimistas declaram que sim, por outro lado, ao ser realista digo que não. Tudo bem se as coisas não aconteceram como planejado ou se os nossos projetos não puderam se concretizar, teremos tempo para fazer isso depois, 2020 nos ensinou que nem sempre ser procrastinadora é ruim, na verdade ele nos forçou a isso. Muitas coisas tiveram que ser adiadas e procrastinadas, aceito isso, pois foi pela minha saúde. 

Eu poderia definir 2020 em uma única palavra: inesperado ou atípico, mas nunca diria que foi perdido. Apesar de não ter realizado o que planejei, fiz coisas que nunca havia imaginado, terminei meu TCC, dediquei-me a minha escrita, observei o mundo da janela de minha casa, vi as folhas das árvores cair pela primeira vez e nascerem de novo, fiz minhas primeiras guias musicais, voltei a sonhar e a acreditar que tudo é possível, que eu sou possível.

Comecei uma nova universidade, descobri um novo hobby, assisti as series em atraso, passei muito tempo com a minha família ao ponto de quase ter uma overdose familiar, não tive férias, consegui cansar de não fazer nada, o que pensei ser impossível, quem iria acreditar que o ócio cansa? Percebi que o excesso de trabalho também faz mal. 

No fim, escrevi esse texto imenso para dizer que tudo é uma questão de perspectiva e pontos de vista, para uns o copo está vazio, para outra na metade e ainda há aqueles que dizem que o copo está transbordando. Então eu lhe pergunto, quem é você nessa pandemia? 

O ano ainda não acabou, embora muito diferente do esperado, beirando a insanidade, 2020 não é um ano perdido. Precisamos parar de pensar em tudo que deu errado ou que deixamos de fazer e focar naquilo que fizemos, nas coisas que conseguimos, precisamos encontrar razões para sermos gratos! Estamos vivos, sobrevivemos a uma pandemia, não se esqueçam que a vida sempre continua…

***

Sagitariana de 97, apaixonada pela vida e pela arte, cantora e compositora, estudante de direito e letras, nascida e criada no interior de São Paulo, mas com grandes sonhos, sou menina/mulher empoderada, buscando um espaço para ser ouvida. Sou feminista. Não escolhi a arte, foi ela quem me escolheu, espero que por meio de minhas palavras vocês possam encontrar: amor, paz, carinho, conforto, acolhimento, felicidade, acalento, balsamo, lembre-se que você não está sozinha, você é amada, é importante, é incrível e é guerreira. Sejam bem vindas a minha mente e meu coração, este é meu pedaço de eu mais genuíno que doou a vocês.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *