O horror em Manaus

Autora: Vilma Aguiar

É socióloga e feminista. Idealizadora da @EscoladaPolitica e do @MulheresPúblicaspodcast.

O domingo é de chuva, o enésimo do ano da peste que não terminou. A peste não termina e o ano, se o civil termina, o outro, o que habita nossa imaginação, segue impávido para além do calendário. E cinza está o céu, o horizonte baixo, como baixas estão nossas perspectivas e expectativas. Quando o mar de merda chega ao nível do seu nariz, os sonhos submergem e sobreviver já parece grande coisa.

Neste domingo do novo ano que já nasceu velho porque sem direito a seus próprios dissabores, nossas mazelas seguem crescentes. Aqui, não se pode mais respirar e a vida termina num estertor de sufocamento.

Busco inutilmente novas palavras para descrever as cenas que se tornam cotidianas, porque diante de tal horror, as antigas se recusam. As palavras têm limites que a nossa realidade ultrapassa sem hesitar.

E as próprias cenas, mesmo mudas, são tão indecentes que não se prestam a metaforizar nossas impossibilidades e a tragédia que se abateu sobre nós.

Deixemos então a Maria e a Joana agonizarem em paz no meio da floresta. Porque nenhuma paz teremos nós, enquanto os monstros que ocupam o Planalto central não agonizarem eles próprios.

E que agonizem nos vômitos ácidos e fétidos que lançaremos sobre eles, enjoados de tanta violência, porque é disso que se trata. A mais pura e brutal violência.

Foto de André L P de Souza

This file is licensed under the Creative Commons Attribution-Share Alike 4.0 International

Postado por Pandêmicas

jan 24, 2021 , ,

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *