Nina e os Amigurumis

Autora: Alexandra Souza e Nina Westphalen

Nina ama matemática e seu principal passatempo na Pandemia é fazer Amigurumis. É filha da Alexandra, arquiteta da bureauwe.com.br

 Nina é uma criança Waldorf de 10 anos que sempre foi viciada em trabalhos manuais. Desde os 4 anos borda, faz crochê e tricô, graças à sua bisavó de 86 anos (sua maior companheira e inspiração) e à escola que escolhemos, a qual acredita que os trabalhos manuais dão suporte ao desenvolvimento dos órgãos dos sentidos e ao mesmo tempo, aceleram a capacidade intelectual.

 Esse ano a vida seguia seu ciclo normal, quando de repente, nos deparamos com uma pandemia. Em um dia, Nina estava indo para a escola, contente e feliz com seus amigos e sua infância saudável de uma criança de 10 anos, e no dia seguinte, estava trancada em casa, longe de todos, da escola que tanto ama e de sua rotina. Quando percebeu só tinha contato com o pai, a mãe e a irmã de 2 anos.

   De início ela não achou tão ruim, pois caseira e tranquila que é, até gostou de exercer seu lado introvertido, brincar mais com a irmã e ficar mais tempo com os pais. No primeiro mês se aprimorou no exercício de ser professora de sua irmã (virou professora jardineira profissional), quando cansou, brincou e brincou de novo, cansou, inventou novas maneiras de dançar, cansou, cozinhou novas receitas que dispensavam o uso do fogão, cansou, pintou, bordou, fez colagens, artesanato, esculturas de argila, etc e cansou. 3 meses de confinamento e cansou, não tinha mais criatividade, já tinha inventado todas as brincadeiras e distrações que estavam ao seu alcance. Foi quando, vendo um chocalho de Amigurumi de sua irmã, pensou: vou aprender a fazer isso. Pesquisou na internet como fazia, demorou algumas semanas para entender, fez alguns protótipos meio “tronchos”, quando finalmente saiu sua primeira peça. A maior alegria foi quando a levei até a loja de armarinho (nosso único passeio na pandemia, de máscara, onde gastava toda sua mesada) para comprar linhas e agulhas e encontrou um kit com todos os materiais necessários para a confecção de um boneco.

 E assim passamos nossa quarentena de isolamento total, angústias, momentos bons, outros ruins, porém com uma fada em nossa casa, produzindo peças lindas e mágicas. Até eu (sua mãe), entrei no embalo e comecei a crochetar (ou tentar) algumas peças para fazer companhia a ela. O melhor momento do dia, durante o isolamento, era a noite quando sentávamos apenas nós duas para fazer Amigurumi. Momentos únicos e plenos, nos quais, por alguns instantes, parecia que tudo estava bem. Trabalho manual é uma terapia, que ativa a concentração e atenção, traz relaxamento com efeitos semelhantes ao do Yoga.

Driblando a ansiedade e as saudades dos amigos, Nina fez uma peça de Amigurumi para cada colega de sua classe. Durante um mês, aos sábados, para sairmos um pouco, fomos até a casa de cada um deles e deixamos essa pequena lembrança com uma cartinha na caixa de correio de cada um. Nos preocupávamos se ela não estava cansada em crochetar 21 peças, porém ela sempre nos respondia: “quero fazer, pois assim me sinto mais próxima de cada um dos meus amigos e a saudade diminui um pouco”.

Não satisfeita, agora com mais de quinze peças produzidas em estoque, Nina começou a divulgar para seus amigos e conhecidos. Tem encomendas para mais de dois meses. Além de se distrair e acalmar um pouco a dor que o momento traz, está juntando dinheiro para comprar mais material e fazer mais Amigurumis. O Amigurumi é uma técnica japonesa para fazer bonecos de crochê e segundo a lenda, quem possui um, atrai SORTE e SEGURANÇA.

Para nossa família, os amigurumis amenizaram alguns dos efeitos negativos dessa fase esquisita pela qual o mundo está passando.

3 thoughts on “Nina e os Amigurumis”
  1. Que texto lindo Alexandra, me emocionei. As manualidades são realmente
    um oásis no meio de tanto caos.
    Que Nina siga esta criança criativa e generosa. Parabéns

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