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Me tornei o que mais temia: mãe. Uma mãe cuidadora primária, uma mãe dona de casa – ou seja, dona de nada. E por que eu temia ser, antes de mais nada, “dona de casa”, mãe e cuidadora?

Fui treinada como branca classe média para reconhecer nisto um fracasso, um menos, uma incapacidade. Fui treinada para achar que amor é algo que vem por reconhecimento. Para entender o amor como algo meritocrático, coisa de vencedores. Para ver o cuidado como pouca coisa e querer coisas grandes e dignas de amor. Para perceber minha mãe um nada porque era, antes de mais nada, para mim, minha mãe. Não enxergava outra coisa nela. Escolha errada atrás de escolha errada, falta de sorte, conjunção astral, ironia, cuspes pra cima despencados e sindemia me jogaram aonde?

No cuidado. No nada. Na ausência de reconhecimento. No fracasso de ser mãe de minhas filhas em primeiro lugar. Não sou apenas uma mãe, mas principalmente uma mãe. Se não há apenas quando se trata de ser, há ainda menos apenas quando se trata de ser cuidadora, gestora de emoções.

Produzir vida, num sistema comedor de vidas, é nada.

Dona de nada que é dona de tudo que é mais caro ao sistema branco e masculino 24/7: afetos.

Postado por Carina

maio 6, 2021

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