O NOVO ANORMAL

Autora: Deise Warken

Livre. Lunar. Vive com intensidade, amor e verdade, busca fluir com leveza no rio da existência, abrindo seus caminhos criativos.

Curitiba (PR), 21 de abril de 2020.

“Enraiza os ísquios, afasta suavemente a carne dos glúteos e conecta ainda mais esses dois ossinhos no chão ou na cadeira, onde você escolheu sentar. A partir dessa base firme e estável, cresce, alonga sua coluna…” Assim, regularmente, inicio as práticas de meditação que conduzo.

Hoje de manhã, depois de conduzir minha última Live de meditação da casa da minha mãe, enraizei os ísquios, no banco do carro, retifiquei a coluna, dei a partida na ignição e peguei a estrada de volta pra casa.

Encerrei um ciclo. Nesse último dia de lua minguante, concluí a primeira fase da minha quarentena. Precisei voltar a Curitiba, e inicio hoje uma nova etapa do isolamento. Agora, na minha casa, viver o tal do novo normal, que não tem nada de novo! Menos ainda de normal!

Um misto de emoções, certa melancolia por deixar minha mãe sozinha (mas, com uma compra de mercado, suficiente pra ela não precisar sair de casa por um mês, pelo menos, diga-se de passagem), e um contentamento por voltar pro meu refúgio, cuidar das minhas plantas, me conectar com minha solitude, que me é tão cara.

Só que há um abismo entre o entendimento racional e o emocional, como diz a Chimamanda Adichie, e minha playlist 2020, que tocava no carro ao longo da viagem, começa com uma versão, linda feita pelo Alexandre Nero, de Não Aprendi Dizer Adeus: 

“Não aprendi dizer adeus

Mas deixo você ir

Sem lágrimas no olhar

Se o adeus me machucar o inverno vai passar

E apaga a cicatriz”

Com lágrimas no olhar, dezenas de “e se”, “mas se”, “quando”, atravessaram meus pensamentos. A cada nova música que eu ouvia, mais nítido ficava que as hipóteses, a necessidade de planejamento, de controle, devem cada vez mais perder espaço na minha vida. Nesse momento entra a música Movimiento, do Jorge Drexler: 

“Somos una especie en viaje

No tenemos pertenencias, sino equipaje

Vamos con el polen en el viento

Estamos vivos porque estamos en movimiento”

Vivi durante muito tempo na ilusão do controle, tenho essa característica forte, que foi muito importante na minha carreira de líder, por mais de uma vez assumi a função de “Controller” em lugares que trabalhei. Mas, hoje, fica cada vez mais claro, que no fluir da vida planejar é parte, não pode nos limitar. Me sinto numa fase da vida de aprender a desfrutar de maior liberdade, de deixar um pouco de lado as regras, a disciplina, a necessidade de fazer o certo (porque sei lá quem um dia disse que era certo), pra seguir meu coração e viver com sabedoria minha autenticidade. Já estava assim antes da quarentena, nela, o aprendizado só se acentuou.

A vida não mudou, a vida se revelou mais claramente como ela é, sem fórmula mágica, sem resposta pra tudo, indicando as setas para olhar pra dentro, encontrar o caminho do coração, da sabedoria interna, da verdade, da bondade, da beleza. Agora, com o confinamento, o que mudou, é que não tem mais como fingir que normal não existe, existe o único, o singular, o autêntico, e cada coração precisa encontrar seu próprio caminho, sem muletas. Enquanto pensava no meu processo interno de me libertar do padrão do controle, toca a música Bicho Solto do Jesus Luhcas: 

“bote de molho teu juízo perfeito, 

ponha pra fora o que tem no teu peito,

deixe se mostrar, 

pra se libertar da corda que prendeu você”.

Assim, nessa meditação guiada na estrada, por músicas de artistas que me identifico, cheguei em casa, cuidei das plantas, fiz minha prática pessoal de yoga, ao anoitecer conduzi a Live de meditação no Instagram da Mutativa. O resto da organização da casa ficou pra amanhã.

Aconchegada na minha cama, depois de mais de um mês fora de casa, descanso com a mente serena, o corpo relaxado e o coração tranquilo, lembrando de outra canção do Drexler que está na minha playlist 2020, e que eu sempre incluo nas mensagens de parabéns, que mando no aniversário das pessoas do meu entorno: 

“Cada uno da lo que recibe

Luego recibe lo que da

Nada es más simple

No hay otra norma

Nada se pierde

Todo se transforma”

Pra quem chegou até aqui, espero que ler esse texto tenha te feito tanto bem, como fez pra mim ao escrevê-lo.

Postado por Amélia

mar 25, 2021 , , ,

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