Por Déa Aguiar. Escrito em 20/08/2020.
A gente sabe que é grave. Faz o possível, o impossível e torce pra ser o suficiente. Todos os dias, na live da Secretaria de Saúde de Curitiba, mais e mais casos confirmados. Óbitos. Números de leitos e de pessoas internadas. Hoje, uma dessas pessoas contabilizadas como “em ventilação mecânica ” é meu pai.
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Bandeira amarela. Parques abrindo, lojas, shoppings, feiras. Vida que segue. E daí?
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Mais de 100.000 famílias já sentiram a dor que me consome agora – medo, angústia, tristeza. Raiva. Saudade. Ainda tenho esperança. A fé tem sustentado tudo por aqui.
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Mãe, o vovô vai voltar? Deus, por favor, por favorzinho, cura meu vovô pra gente ir tomar caldo de cana! Mãe, eu gosto das músicas bobas que o vovô inventa. Mãe, eu trocaria todo o sushi do mundo pra ter o vovô de novo com a gente. Mãe, lembra que ele sempre compra bolacha e suco pra gente? Eu gostei de ir com ele na loja pra consertar os óculos, ele sentou em cima e teve que arrumar. O vovô fala caca-cola. Ele compra geleia pura pra Sofia. Mãe, o vovô vai ficar bem? Mãe, ele não pode morrer.
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Ele nem brincou com o Caio! ..Olho pras meninas, para o Caio, que ri no meu colo, alheio ao que nos tortura. Silêncio. Lágrimas. Orações derramadas entre palavras sinceras e o choro de quem teme perder um ser tão amado…Envio mensagens na esperança de que em algum momento serão lidas e respondidas – Reage, paizinho. Volta pra gente! Ano que vem vou terminar a faculdade, vamos jantar num lugar bem gostoso! Pai, descobri que não estão te dando cloroquina, que alívio! Olha só o que as meninas fizeram, pai! Você vai adorar brincar com o Caio, ele é muito esperto! Te amo, paizinho. Estamos orando por você.
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Silêncio. Espera. Os segundos parecem anos pra quem espera uma notícia.
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Te amo, pai. Espero que você fique bem!
Texto e imagem publicados originariamente em https://www.facebook.com/adonadeaa, reproduzidos com autorização da autora.